sexta-feira, 13 de maio de 2011

PEDIDO DE UM CÃO

Autor: desconhecido

Não sei por que me desprezas,E procuras me maltratar,
E quando tenta gostar de mim,Acabas por me detestar.
Não o culpo totalmente,Mas também não te dou razão,Posso não ser homem,Mas me orgulho de ser Cão.
Sei que tu foste feito,A imagem de teu Senhor,Mas não esqueças que Ele,Também foi meu criador.
Aqui na terra fui posto,Para ser teu melhor amigo,Por quê agora te tornas,Meu maior inimigo?
Não peço que tu me ames,Mais que ao teu semelhante,Só peço que não me desprezes,De modo triste e humilhante.
Tu tens o Dom da Fala,Eu o Dom de Latir,E com apurados ouvidos,O mal, posso pressentir.
Posso ser teu companheiro,Posso ser um caçador,Podes me usar pra tudo,Até guarda e protetor.
Quando exausto, tu chegas,Todos podem te abandonar,Mas eu, nunca esqueço,De minha cauda abanar.
Todos os teus amigos,Te amam e te querem bem,Mas só, enquanto os amares,E lhes fizeres o bem...
Porém eu sou diferente,Só te recebo, com alegria,Mesmo quando me tratas,Com frieza e grosseria.
Quando ao deitar, pedes a Deus,Que protejas o teu Lar,E que não permitas,Que ladrão, o venha roubar.
Porém esqueces que Deus,Pode até usar um Cão, Como usou, Jesus, certa vez
A jumenta de Balão...
Por isso ,creias que Deus,Pode também me usar,Para enfrentar o malfeitor,E com minha vida, defender teu Lar.
Não tentei ser um poeta,Pois não passo de um Cão,Só desejo que me trates,Com carinho e consideração...

Eu sinceramente tenho vergonha desse mundo em que vivemos...

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Diário de um cão

1ª Semana:
Hoje faz uma semana que nasci! Que alegria ter chegado a este mundo!


1º Mês:
A minha mãe cuida muito bem de mim. É uma mãe exemplar!


2º Mês:
Hoje separaram-me da minha mãe. Ela estava muito inquieta e com os seus olhos disse-me adeus como que esperando que a minha nova “família humana” cuidasse bem de mim, como ela havia feito.


4º Mês:
Cresci muito rápido. Tudo chama à minha atenção. Existem crianças na casa, são como “irmãozinhos”.


5º Mês:
Hoje castigaram-me. A minha dona zangou-se porque fiz xixi dentro de casa... Mas nunca me disseram onde eu deveria fazer. E como durmo na marquise, não aguentei!


6º Mês:
Sou um cão feliz. Tenho o calor de um lar, sinto-me seguro e protegido... Creio que a minha família humana me ama muito... Quando estão a comer convidam-me também. O pátio é só para mim e eu estou sempre a fazer buracos na terra, como os meus antepassados lobos, quando escondiam comida. Nunca me educam! Seguramente porque nada faço de errado!


12º Mês:
Hoje completei um ano. Sou um cão adulto e os meus donos dizem que cresci mais do que eles esperavam. Que orgulhosos devem estar de mim!!!


13º Mês:
Como me senti mal hoje... O meu “irmãozinho” tirou-me a minha bola. Como nunca toco nos seus brinquedos, fui atrás dele e mordi-o, mas como os meus dentes estão muito fortes, magoei-o sem querer. Depois do susto, prenderam-me e quase não me posso mover para tomar um pouco de sol. Dizem que sou ingrato e que me vão deixar em observação (certamente não me vacinaram)... Não entendo o que está a acontecer.


15º Mês:
Tudo mudou... vivo preso no pátio... na corrente... Sinto-me muito só.... a minha família já não me quer... às vezes esquecem-se que tenho fome e sede e quando chove não tenho tecto para me tapar.


16º Mês:
Hoje tiraram-me a corrente. Pensei que me tinham perdoado...Fiquei tão contente que dava saltos de alegria e o meu rabo não parava de abanar. Parece que vou passear com eles. Entrámos no carro e andámos um grande bocado. Quando pararam, abriram a porta e eu desci a correr, feliz, crendo que era um dia de passeio no campo. Não entendo porque fecharam a porta e se foram embora... “Esperem!!!” – Lati. Esqueceram-se de mim! Corri atrás do carro com todas as minhas forças... a angustia aumentou ao perceber que o carro se afastava e eles não paravam. Tinham-me abandonado...


17º Mês:
Procurei em vão encontrar o caminho de volta a casa. Sento-me no caminho, estou perdido e algumas pessoas de bom coração olham-me com tristeza e dão-me de comer... Eu agradeço com um olhar do fundo da minha alma. Porque não me adoptam? Eu seria leal como ninguém. Porém apenas dizem “Pobre cãozinho, deve estar perdido.”.


18º Mês:
No outro dia passei por uma escola e vi muitas crianças e jovens como os meus “irmãozinhos”. Cheguei perto deles e um grupo, aos risos, atirou-me uma chuva de pedras – para ver quem tinha melhor pontaria. Uma dessas pedras atingiu um dos meus olhos, e desde então não vejo.


19º Mês:
Parece mentira, mas quando eu estava mais bonito as pessoas compadeciam-se mais de mim... Agora que estou mais fraco, com aspecto mudado... perdi o meu olho, as pessoas tratam-me aos pontapés quando pretendo deitar-me à sombra.


20º Mês:
Quase não me posso mexer. Hoje ao atravessar a rua por onde passam os carros, um deles atropelou-me. Pelo que sei estava num lugar seguro chamado sarjeta, mas nunca me vou esquecer do olhar de satisfação do motorista ao faze-lo. Oxalá me tivesse morto... Porém só me partiu as pernas. A dor é terrível, as minhas patas traseiras não me respondem e com dificuldade arrastei-me até uma moita de ervas completamente fora da estrada. Não me posso mover, a dor é insuportável, nunca me abandona. Sinto-me muito mal, estou num lugar úmido e parece que o meu pêlo está a cair. Algumas pessoas passam e não me vêem; outras dizem “Não te aproximes”. Já estou quase inconsciente. Porém uma força estranha fez-me abrir os olhos. A doçura da sua voz fez-me reagir. “Pobre cãozinho, como te deixaram”, dizia. Junto a ela estava um senhor de roupa branca que começou a tocar-me e disse “Minha senhora, infelizmente este cão não têm remédio que o salve, o melhor é que deixe de sofrer”.
A gentil senhora consentiu com os olhos cheios de lágrimas. Como pude, mexi o rabo e olhei para ela, agradecendo por me ajudar a descansar... Senti somente a picada da injecção e dormi para sempre, pensando em porque nasci se ninguém me queria...