segunda-feira, 11 de julho de 2011

De um cão acorrentado ao seu dono

Querido "dono",

Consegui que
escrevessem esta carta por mim. Nem sabes a alegria que sinto por poder
comunicar contigo. Todos os dias, desde aquele dia longínquo em que me
colocaste a corrente no pescoço e me prendeste neste espaço, eu sonho
que venha me visitar e fazer festinhas como me fazias quando eu era um
bebê. Eu sonho que venhas conversar comigo, não entendo muito bem o que
me dizes, mas nem imaginas como adoro ouvir o som da tua voz!


Eu sei que
fiz algo de errado, senão certamente não me terias colocado aqui.
Desculpa! Não quero ser exigente mas começa a doer ter esta corrente
atada ao meu pescoço. Às vezes tenho o pescoço dormente, e outras vezes
tenho muito comichão e nem consigo coçar! Sinto o seu peso todos os
dias, o peso da solidão que me prende.


Tenho vontade
de esticar as pernas e correr...e como eu gostava de poder fazer isso
contigo! Adorava que me atirasses umas bolas, aí eu podia mostrar-te
como sou rápido a correr e como as trazia rapidamente. Gostava de poder
ver o que tu vês, o mundo lá fora é muito grande? E existem outros como
eu?


Ás vezes
tenho sede e alguma fome mas eu aguento em silêncio porque sei que assim
que poder virá dar-me comida e água, sei que fazes o que podes, eu não
quero incomodar, mas sabes, por vezes gostava de ter um pouco da tua
companhia.


Sei que
talvez alguém te tenha dito que eu não tenho sentimentos, mas olha que é
mentira! Nem imaginas quanta alegria sinto quando alguém me toca ou se
dirige a mim. Nem sabes quanta tristeza e solidão pesa em mim nas longas
horas que não vejo ninguém. Nem sabes o medo que por vezes sinto no
Inverno aqui sozinho, e tenho tanta vontade de estar perto de ti.


No outro dia
passaram aqui umas pessoas estranhas e puseram-se a olhar cá para dentro
e a apontar para mim, riam e atiravam umas pedras na minha direção.
Queriam vir fazer-te mal. Acertaram-me com uma na pata e ontem não
consegui levantar-me , mas eu afuguentei-as logo com o meu ladrar. Eu
não quero que ninguém te venha fazer mal…e não quero que te zangues
comigo, eu prometo fazer melhor por ti.


Eu sou o teu
amigo mais fiel, nunca te irei trair, não guardo rancor, e não tiro
nunca o lugar de ninguém, será que tens mais amigos assim no teu mundo?
Só queria um pouco mais da tua atenção e amor, uma cama quente no
inverno, um local fresco no verão e o teu cheiro a entrar-me nas narinas
todos os dias, seguido de um sorriso e uma festa no meu velho lombo.


Eu sei que um
dia tu irás chegar aqui e tirar a corrente, e dar-me tudo isto, até lá
eu fico quieto á espera. Só não demores muito meu "dono", porque estou a
ficar velho e começo a ver e ouvir mal. Faltam-me forças e não quero
ir, sem viver um pouco contigo.